Polícia Civil desmantela esquema criminoso em condomínios de Canoas com a Operação Bunkers

Operação revela domínio de facções em áreas residenciais, com tráfico de drogas, lavagem de dinheiro, cárcere privado e confrontos armados
Na manhã desta terça-feira, 20 de maio, a Polícia Civil deflagrou a Operação Bunkers, uma ofensiva contra duas organizações criminosas rivais que transformaram condomínios populares de Canoas em verdadeiros quartéis-generais do crime. As ações ocorreram simultaneamente em áreas dominadas por facções com ramificações em Porto Alegre e na região do Vale do Rio dos Sinos.
A investigação revelou a presença de um sistema criminoso sofisticado, envolvendo tráfico de drogas, lavagem de dinheiro, homicídios, extorsões, corrupção de menores e cárcere privado, entre outros crimes. Os criminosos transformaram os condomínios em áreas de controle total, comparados às torres de Flak da Segunda Guerra Mundial, consideradas quase impenetráveis.
Bunker I – 3ª DP de Canoas combate rede de tráfico e lavagem de dinheiro
Sob a coordenação da delegada Luciane Bertoletti, a 3ª Delegacia de Polícia de Canoas realizou 57 mandados cautelares em um condomínio com mais de 4.800 moradores, onde uma facção exercia controle absoluto sobre a administração do local, inclusive em serviços de manutenção, vigilância e imobiliária própria.
Os líderes operavam de dentro do sistema prisional, coordenando o tráfico e utilizando contas bancárias de laranjas para movimentar recursos ilegais. A investigação revelou uma estrutura hierárquica bem definida, com integrantes especializados na produção e distribuição de drogas e no gerenciamento financeiro da organização.
A delegada destacou que os criminosos utilizavam transações financeiras fragmentadas e complexas, buscando dificultar o rastreamento. “A operação expôs o domínio opressor da facção sobre os moradores, que viviam sob medo ou sob a promessa de benefícios. Nosso objetivo foi interromper essa estrutura criminosa e devolver a tranquilidade à comunidade”, afirmou Bertoletti.
Bunker II – 1ª DP de Canoas investiga sequestro e retaliações
A 1ª Delegacia de Polícia de Canoas, sob comando do delegado Marco Guns, apurou o cárcere privado de uma mulher e seus dois filhos pequenos, ocorrido após um preso denunciar membros da própria facção e mudar de galeria. Como represália, líderes da organização ordenaram o sequestro dos familiares da vítima.
Cinco criminosos armados invadiram o apartamento da mulher, a trancaram com os filhos em um quarto, ameaçaram por videoconferência e proibiram contato externo. O caso foi agravado com outros episódios de violência, como o confronto armado com a Brigada Militar no bairro Mathias Velho, que terminou com 11 carros incendiados em retaliação à ação policial.
Guns relatou que os criminosos imporam um poder paralelo, cobrando taxas arbitrárias, mantendo armamento à vista em áreas comuns e exercendo domínio psicológico e físico sobre os moradores. “Já temos provas contundentes, como vídeos e imagens, que confirmam a existência de uma estrutura empresarial do crime, com divisão de tarefas e ações coordenadas para resistir ao trabalho policial”, explicou.
Resultados e desdobramentos
Segundo o Delegado Cristiano Reschke, diretor da 2ª Delegacia de Polícia Regional de Canoas, a Operação Bunkers busca mais do que prender criminosos: visa entender a lógica do esquema, o fluxo financeiro e a cadeia de comando das facções.
A investigação constatou que em ambos os lados da cidade, o esquema se repete: traficantes controlam o cotidiano dos condomínios, expulsam moradores, dominam apartamentos e os transformam em depósitos de drogas e armas. O controle continua mesmo com os chefes presos, que emitem ordens, promovem julgamentos e determinam ações por meio de redes de comunicação internas.
A lavagem de dinheiro é realizada por meio de empresas de fachada, que permitem aos líderes criminosos assumirem a aparência de empresários legais, inserindo recursos ilícitos no mercado formal. Um dos alvos presos vivia em uma casa blindada, com muros altos, cercas de aço, cães de guarda e sistema de vigilância reforçado, verdadeiro símbolo do poder acumulado pelo crime.
Oito integrantes de uma das organizações criminosas já foram presos, e as investigações continuam para garantir mais segurança à população e enfraquecer o domínio do crime organizado sobre os condomínios de Canoas.