O Rio Grande do Sul, terceiro maior exportador nacional de carne de frango, enfrenta desafios econômicos e comerciais após a confirmação de um foco de Influenza Aviária de Alta Patogenicidade (H5N1) em uma granja de Montenegro em segunda-feira, 23 de junho. O estado, que em 2024 destinou mais de 50% da produção de frango ao mercado externo, registrou exportações de US$ 1,3 bilhão, representando 5,8% da pauta exportadora gaúcha.
A ocorrência alterou o status sanitário do Brasil, antes restrito a registros do vírus apenas na fauna silvestre, e já trouxe repercussões econômicas imediatas. Publicada pelo Departamento de Economia e Estatística (DEE) da Secretaria de Planejamento, Governança e Gestão (SPGG), a nota técnica assinada pelos pesquisadores Ricardo Leães e Sérgio Leusin Jr. detalha os impactos no setor e sugere caminhos para enfrentar a crise.
Diversos parceiros comerciais reagiram com embargos e restrições. China, União Europeia, Coreia do Sul, Iraque e Kuwait suspenderam totalmente as importações de carne de frango brasileira. Japão, Arábia Saudita e Emirados Árabes Unidos aplicaram restrições regionais, limitadas à área do foco. A nota destaca que a duração dos embargos depende da confiança dos mercados nas medidas de controle e lembra que a China já mantinha embargo às exportações do estado desde julho de 2024 por um foco anterior de Doença de Newcastle.
No mercado interno, os reflexos também são visíveis. De acordo com o Cepea/Esalq, o preço do frango congelado em São Paulo caiu 5,3% entre terça-feira, 27 de maio, e quarta-feira, 28 de maio, de R$ 8,65 para R$ 8,19 o quilo, chegando a R$ 7,38 em sexta-feira, 6 de junho. O movimento indica um provável redirecionamento da produção antes destinada ao exterior.
A nota técnica ressalta ainda os desafios logísticos, o rompimento de contratos, os efeitos sobre cadeias produtivas e os impactos diretos na economia de municípios com forte dependência da avicultura, como Nova Bréscia, Westfália e Alto Feliz, onde mais de 40% do Valor Adicionado Bruto da agropecuária está associado à criação de aves. Os autores defendem uma articulação entre setor público, privado e diplomático para conter os efeitos econômicos e preservar os mercados internacionais.