Paciente surdo há 20 anos volta a ouvir após cirurgia inédita no RS

Implante auditivo de tronco cerebral possibilitou que Flavio Fermiano Fidelis rompesse o silêncio absoluto e reencontrasse sons após décadas sem audição

Após duas décadas imerso em silêncio, Flavio Fermiano Fidelis, de 53 anos, voltou a ouvir graças a um implante auditivo de tronco cerebral, cirurgia complexa realizada pela primeira vez no Rio Grande do Sul. Morador de Torres e estoquista, ele perdeu totalmente a audição aos 30 anos devido a uma doença genética chamada neurofibromatose tipo 2, que provoca tumores nos ouvidos e compromete o nervo auditivo, impedindo o uso de aparelhos auditivos convencionais ou do implante coclear, conhecido como “ouvido biônico”.

Esse procedimento foi conduzido no Hospital Moinhos de Vento, em Porto Alegre, com apoio de especialistas de São Paulo. A operação precisou ocorrer em duas etapas: a primeira em 2024 e a segunda com ajustes em 2025, seguida pela ativação do dispositivo há dois meses. O implante funciona ao transmitir estímulos elétricos diretamente aos núcleos auditivos no tronco cerebral, sem passar pelo ouvido, permitindo que o paciente reconheça sons essenciais para a comunicação e a segurança no dia a dia.

Para realizar a cirurgia, Fidelis enfrentou anos de espera. O procedimento não estava incluído no rol obrigatório dos planos de saúde e não era ofertado pelo SUS, o que o levou a entrar na Justiça. Após 10 anos de ação judicial, conseguiu sentença favorável para que o Estado e a prefeitura arcassem com os custos, viabilizando finalmente a cirurgia no Rio Grande do Sul. “Esperei muito tempo por isso. Só de conversar com meu filho de novo, é uma felicidade enorme”, comemorou o paciente, que continua reabilitação com fonoaudiólogos.

De acordo com o otorrinolaringologista Joel Lavinsky, essa cirurgia é extremamente sofisticada por ocorrer na base do crânio, área repleta de estruturas vitais, e representa um avanço importante para a reabilitação auditiva no Estado. Embora a audição proporcionada pelo implante de tronco cerebral não seja igual à natural, o paciente deixa o silêncio absoluto, passa a identificar diferentes tipos de sons e consegue compreender gradualmente palavras e frases. “Mesmo o mínimo já transforma a qualidade de vida”, destacou Lavinsky, celebrando a chegada dessa tecnologia ao Rio Grande do Sul.

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