Ultraprocessados já compõem ao menos 20% da alimentação diária no Sul, revela pesquisa da USP
Estudo aponta que consumo é maior em cidades urbanizadas e com renda mais alta, como Porto Alegre e Florianópolis

Pelo menos 20% da alimentação diária de moradores da região Sul do Brasil é composta por alimentos ultraprocessados, segundo levantamento do Núcleo de Pesquisas Epidemiológicas em Nutrição e Saúde (Nupens) da Universidade de São Paulo (USP). No Rio Grande do Sul, os índices variaram de 17,6% em Coqueiro Baixo a 26,6% em Porto Alegre.
Em Santa Catarina, o consumo médio de ultraprocessados é o maior do Brasil, chegando a 23,9% das calorias diárias, com destaque para Florianópolis, onde a taxa chega a 30,5%. Já o menor índice nacional foi registrado em Aroeiras do Itaim, no Piauí, com 5,7%.
O Sudeste aparece em segundo lugar, liderado por São Paulo, onde 25,5% da alimentação diária é composta por ultraprocessados. Em contrapartida, o Tocantins apresenta o menor consumo entre os Estados, com 12,9%.
De acordo com Leandro Cacau, pesquisador do Nupens e autor principal do estudo, a urbanização e a renda mais alta estão diretamente relacionadas ao maior consumo desses alimentos. “Municípios que têm residentes com cinco ou mais salários mínimos são aqueles que possuem maior consumo de alimentos mais processados”, explica.
O levantamento indica que todas as capitais brasileiras, exceto Vitória, no Espírito Santo, registraram taxas acima de 20%. No entanto, o pesquisador alerta que o menor consumo em áreas rurais não significa, necessariamente, uma alimentação saudável. “Sabemos que essas pessoas consomem alimentos básicos como arroz, feijão, farinha e mandioca e que existe um menor consumo de ultraprocessados, mas não dá para afirmar que eles consomem, por exemplo, frutas, cereais integrais e verduras”, afirma Cacau.
Segundo ele, os dados podem subsidiar políticas públicas de alimentação saudável em nível municipal, estadual e federal, seguindo as diretrizes do Guia Alimentar para a População Brasileira, que incentiva o consumo de alimentos minimamente processados.
O estudo utilizou dados de 46.164 pessoas participantes da Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF 2017-2018), combinados a informações sociodemográficas do Censo de 2010, com fatores de correção para mitigar diferenças temporais. A POF ouviu brasileiros com idade a partir de 10 anos e reportou mais de 1.800 alimentos classificados como in natura, minimamente processados, ingredientes culinários processados, processados ou ultraprocessados.