O banco de areia junto à Ilha das Balseiras, no Guaíba, em Porto Alegre, existe há mais de 60 anos e não foi formado pelas cheias de 2024. Mapas do Exército e da Marinha Brasileira, elaborados a partir de levantamentos realizados entre 1961 e 1964, já indicavam a presença da formação.
Segundo especialistas, esse tipo de banco de areia é resultado do processo natural de sedimentação, sendo comum em áreas como o delta do rio Jacuí. Apesar de ter aumentado de tamanho após o evento extremo do ano passado, não representa risco maior de inundações nem interfere na navegação. Imagens de satélite de 2020 confirmam que o banco já existia antes, sendo a visibilidade variável conforme o nível das águas.
“É uma formação natural na área do delta do rio Jacuí, onde sedimentos são depositados, e sua influência é desprezível para as cheias do Guaíba,” destaca Fernando Mainardi Fan, doutor em Recursos Hídricos e professor do Instituto de Pesquisas Hidráulicas (IPH) da Ufrgs. Ele compara a influência do banco de areia em possíveis cheias a um carro parado no acostamento de uma rodovia: “praticamente nenhum”.
Glaucus Ribeiro, analista-chefe da Fundação Estadual de Proteção Ambiental (Fepam), explica que o banco foi identificado nos anos 1960 e cresceu após as cheias de 2024, mas ainda é insignificante diante do volume do Guaíba. “Sua remoção seria ineficaz no controle de enchentes.”
Para o professor Joel Goldenfum, secretário-executivo do Comitê Científico de Adaptação e Resiliência Climática do Rio Grande do Sul, formações desse tipo são normais em ambientes de lago, como o Guaíba, onde a água perde velocidade e deposita materiais em suspensão. “É um processo absolutamente normal. Primeiro, formam-se bancos de areia e, com o tempo, podem ou não se tornar ilhas, como as Ilhas dos Marinheiros e da Pintada, que se formaram de maneira semelhante.”
Goldenfum ressalta que a dragagem desse banco de areia é desnecessária, pois o volume é pequeno frente ao Guaíba e a remoção exigiria investimentos altos sem impacto real no controle de enchentes.
De acordo com a Portos RS, o banco está distante do canal de navegação e não oferece riscos ao transporte de cargas.
Atualmente, o governo estadual executa o Programa Desassorear RS, dentro do Plano Rio Grande, liderado pelo governador Eduardo Leite, para reconstruir o estado com mais resiliência. O Eixo 1 contempla a limpeza de pequenos rios em 154 cidades, com R$ 301 milhões via Fundo do Plano Rio Grande (Funrigs), ação que já trouxe resultados nas chuvas intensas de junho. Já o Eixo 2 prevê o desassoreamento de grandes rios, como o Taquari, onde nesta segunda-feira, 7 de julho, começaram os trabalhos de batimetria, etapa necessária para identificar pontos prioritários para a limpeza.