Grupo técnico avaliará desafios e custos para diminuir dependência de sistemas estrangeiros
Um grupo de especialistas vai estudar a viabilidade de o Brasil desenvolver seu próprio sistema de geolocalização por satélite, uma iniciativa considerada de altíssima complexidade tecnológica e elevado custo. A proposta é analisar as consequências da dependência nacional de sistemas estrangeiros de posicionamento, navegação e tempo, como o GPS, operado pelos Estados Unidos.
A formação do grupo foi oficializada no início de julho, por meio da Resolução nº 33 do Comitê de Desenvolvimento do Programa Espacial Brasileiro, assinada pelo ministro do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), Marcos Antonio Amaro dos Santos. O grupo tem 180 dias, a contar da sexta-feira, 14 de julho, para entregar um relatório com conclusões e recomendações.
“O grupo ainda está se organizando”, afirmou nesta segunda-feira, 21 de julho, o diretor de Gestão de Portfólio da Agência Espacial Brasileira (AEB), Rodrigo Leonardi, ressaltando que a missão será entender gargalos, dificuldades e avaliar prós e contras da criação de um sistema nacional.
Atualmente, o sistema mais conhecido é o GPS (Sistema de Posicionamento Global), dos EUA, mas também existem o Glonass (Rússia), Galileo (União Europeia) e BeiDou (China), todos com cobertura global. Há ainda sistemas regionais, como o NavIC (Índia) e o QZSS (Japão).
Boatos e contexto internacional
A criação do grupo coincidiu com momentos de tensão internacional, como o anúncio do presidente dos EUA, Donald Trump, de uma tarifa de 50% sobre produtos brasileiros, e especulações nas redes sociais sobre a possibilidade de o país norte-americano restringir o sinal do GPS ao Brasil. Leonardi, no entanto, negou qualquer relação entre esses eventos e a criação do grupo técnico.
“Não houve nenhum comunicado oficial dos EUA sobre isso, e mesmo que houvesse, o impacto seria limitado, já que há alternativas ao GPS”, garantiu o diretor da AEB. Ele também destacou que a maioria dos aparelhos modernos é multiconstelação, ou seja, pode captar sinais de diferentes sistemas.
Autonomia estratégica e desenvolvimento tecnológico
Para o professor da Universidade de Brasília (UnB) e coordenador do Laboratório de Automação e Robótica (Lara), Geovany Araújo Borges, a criação de um sistema brasileiro seria estratégica, tanto para a segurança quanto para o avanço tecnológico em áreas como medicina, agropecuária e indústria.
“Temos pessoal capacitado. O que falta é investimento financeiro e continuidade. É preciso que isso se torne uma política de Estado, com investimentos em educação básica, microeletrônica e pesquisa”, defendeu Borges.
Segundo ele, a dependência de sistemas estrangeiros representa risco para áreas sensíveis da soberania nacional, tornando essencial o debate sobre o tema. “Ainda que tardia, a formação desse grupo é um passo importante para a autonomia tecnológica do Brasil”, concluiu.