Crescimento do consumo de IA no Paraguai leva Itaipu a estudar construção de duas novas turbinas

Projeção é que o Paraguai utilize toda a energia a que tem direito até 2035, reduzindo o excedente repassado ao Brasil

A crescente demanda por energia elétrica no Paraguai, impulsionada pela instalação de data centers, mineração de criptomoedas e uso intensivo de inteligência artificial (IA), levou a direção da Usina Hidrelétrica de Itaipu a iniciar estudos para a construção de duas novas turbinas geradoras. A medida pode significar um aumento de 10% no número atual de unidades, que hoje somam 20.

A iniciativa foi confirmada pelo diretor-geral brasileiro da Itaipu Binacional, Enio Verri, durante visita de jornalistas às instalações da usina, que fica entre Foz do Iguaçu e Ciudad del Este, na fronteira entre Brasil e Paraguai.

“É inevitável, isso vai ocorrer”, afirmou Verri, destacando que o projeto ainda depende de viabilidade técnica, social, ambiental e econômica, além de um acordo entre os dois países. Apesar da perspectiva de expansão, ele pondera que ainda não há condições econômicas para viabilizar o investimento.

A estrutura da barragem de Itaipu já dispõe de espaço físico para a instalação das novas turbinas, localizadas após os vertedouros do Rio Paraná. Atualmente, a potência instalada da usina é de 14 mil megawatts (MW) — cada turbina gera cerca de 700 MW.

O crescimento no consumo de energia do Paraguai se deve, segundo Verri, à expansão da economia e do setor de tecnologia, com a proliferação de servidores e mineradoras de criptoativos, que exigem alto consumo elétrico. Dados da Administradora Nacional de Eletricidade (Ande) apontam que o Paraguai pode atingir 50% de consumo da geração da usina até 2035. Em 2024, o país já consumia 31% da energia de Itaipu, contra 69% do Brasil.

Além disso, a partir de 2027, um novo acordo permitirá que o país com excedente de energia decida livremente seu destino, inclusive podendo vender diretamente no mercado livre de energia brasileiro ou para terceiros.

A ampliação da usina, no entanto, não será simples. Verri destaca que hoje, diferentemente do período em que Itaipu foi construída, é necessário levar em consideração o impacto nas comunidades e o rigor das políticas socioambientais.

O investimento em novas turbinas poderá ser viabilizado com empréstimos de longo prazo em instituições como o Banco Mundial ou o BNDES, com possibilidade de reembolso via taxa na conta de luz dos consumidores brasileiros.

Criada há 50 anos, a Itaipu Binacional é um empreendimento compartilhado igualmente entre Brasil e Paraguai. Desde 1985, quando iniciou a geração de energia, a parte não utilizada por um dos países é repassada ao outro a preço de custo, sem margem de lucro.

Apesar da redução do excedente paraguaio, Verri acredita que o Brasil está preparado para o novo cenário, com o crescimento de fontes renováveis como solar e eólica, principalmente no Nordeste, onde já há excedente de energia intermitente.

A possível expansão das turbinas é vista como estratégica para o futuro da matriz energética da região, mas ainda requer tempo, estudos e acordos multilaterais para se concretizar.

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