O presidente Luiz Inácio Lula da Silva criticou neste domingo, 6 de julho, o papel do Fundo Monetário Internacional (FMI) e do Banco Mundial, afirmando que essas instituições “sustentam um Plano Marshall às avessas, em que as economias emergentes e em desenvolvimento financiam o mundo mais desenvolvido.”
A declaração foi feita durante a segunda sessão plenária da 17ª Cúpula do Brics, realizada no Museu de Arte Moderna (MAM), no Rio de Janeiro, dedicada ao fortalecimento do multilateralismo, assuntos econômico-financeiros e inteligência artificial.
Para Lula, enquanto o FMI e o Banco Mundial priorizam países desenvolvidos, os fluxos de ajuda internacional caíram e o custo da dívida dos países mais pobres aumentou. O presidente defendeu mais poder dos países do Sul Global no FMI. “As distorções são inegáveis”, disse Lula, propondo que o poder de voto dos membros do Brics chegue a 25% – e não os 18% atuais.
Ele também criticou o neoliberalismo, afirmando que aprofundou desigualdades: “Três mil bilionários ganharam US$ 6,5 trilhões desde 2015.”
Lula elogiou o Novo Banco de Desenvolvimento (NDB), conhecido como Banco do Brics, dizendo que a instituição “dá uma lição de governança” ao citar o ingresso da Argélia e o processo de adesão da Colômbia, Uzbequistão e Peru. O banco foi criado em 2015 e, desde 2023, é presidido pela ex-presidente Dilma Rousseff. Para Lula, o NDB comprova a capacidade de financiar transições justas e soberanas.
O presidente também defendeu justiça tributária e combate à evasão fiscal, afirmando serem medidas fundamentais para estratégias de crescimento inclusivas e sustentáveis.
Em sua fala, Lula criticou a Organização Mundial do Comércio (OMC), apontando que “sua paralisia e o recrudescimento do protecionismo criam uma situação de assimetria insustentável para os países em desenvolvimento.” A declaração ocorre no ano em que o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, deflagrou uma guerra tarifária para proteger a indústria americana.
Sobre inteligência artificial, Lula disse que o Brics adotou uma declaração sobre governança de IA, o que representa uma “mensagem clara e inequívoca de que as novas tecnologias devem atuar dentro de um modelo justo, inclusivo e equitativo.” Ele destacou que o desenvolvimento da IA não pode ser privilégio de poucos países ou instrumento de manipulação de bilionários, nem pode avançar sem participação do setor privado e da sociedade civil.
Esta 17ª cúpula marca o ineditismo da presença de países-parceiros, modalidade criada em 2024 na cidade russa de Kasan. Lula exaltou a expansão do grupo: “Os países convidados trazem perspectivas regionais que enriquecem a visão do Sul Global.”
“O Brics é ator incontornável na luta por um mundo multipolar, menos assimétrico e mais pacífico”, concluiu Lula.
O Brics é formado por 11 países-membros – África do Sul, Arábia Saudita, Brasil, China, Egito, Emirados Árabes Unidos, Etiópia, Indonésia, Índia, Irã e Rússia –, que representam 39% da economia mundial e 48,5% da população do planeta. Entre os países-parceiros estão Belarus, Bolívia, Cazaquistão, Cuba, Malásia, Nigéria, Tailândia, Uganda, Uzbequistão e Vietnã.
Em 2026, a presidência do Brics será assumida pela Índia.