Montadoras pressionam governo contra incentivos à BYD em disputa pelo mercado de elétricos no Brasil

Fabricantes tradicionais alegam risco a investimentos e empregos diante do avanço da empresa chinesa; Camex analisa mudanças nesta quarta-feira

Uma intensa disputa pelo mercado de veículos elétricos no Brasil colocou as principais montadoras instaladas no país — Toyota, General Motors, Volkswagem e Stellantis — contra a crescente presença da fabricante chinesa BYD.

As quatro empresas, por meio da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), divulgaram nesta semana uma carta enviada ainda em junho ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva, manifestando preocupação com a possível redução temporária da tarifa de importação de veículos elétricos ou híbridos desmontados, como pleiteia a BYD.

“Esse ciclo virtuoso de fortalecimento da indústria nacional será colocado em risco e sofrerá forte abalo se for aprovado o incentivo à importação de veículos desmontados para serem acabados no país”, afirma a carta, divulgada pelo presidente da Volkswagem, Ciro Possobom. O documento destaca ainda um plano de investimento de R$ 180 bilhões no setor automotivo nos próximos anos.

Em resposta, a BYD declarou à Agência Brasil que a posição das montadoras representa uma “chantagem emocional com verniz corporativo”, típica de quem deseja manter um modelo de negócio ultrapassado. “Agora, chega uma empresa chinesa que acelera fábrica, baixa preço e coloca carro elétrico na garagem da classe média, e os dinossauros surtam”, provocou a montadora.

A disputa está sendo analisada pelo Comitê-Executivo de Gestão (Gecex) da Câmara de Comércio Exterior (Camex), em reunião extraordinária nesta quarta-feira, 30 de julho, ligada ao Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio (MDIC).

De um lado, as montadoras da Anfavea pedem antecipação da tarifa de 35% para 2026, que inicialmente estava prevista para 2028. De outro, a BYD solicita redução temporária da tarifa de importação, alegando que precisa de tempo para nacionalizar sua produção enquanto finaliza a primeira etapa da fábrica em Camaçari (BA), prevista para entrega em cerca de um ano e meio.

Segundo a BYD, “não faz sentido aplicar o mesmo nível de tributação sobre veículos 100% prontos trazidos do exterior e sobre veículos que são montados no país”. A empresa reforça que outras montadoras seguiram o mesmo caminho antes de nacionalizar integralmente a produção.

O vice-presidente e ministro do MDIC, Geraldo Alckimin, explicou que o governo estuda ajustes na fase de transição das tarifas de importação, que hoje crescem gradualmente enquanto a cota de isenção diminui. Em 2023, quando Lula assumiu, a tarifa era de 0% para elétricos e 35% para veículos convencionais.

Alckimin afirmou que “inúmeras empresas estão abrindo fábricas no Brasil”, como a GWM em Indianópolis (SP) e a própria BYD na Bahia. Uma das propostas em análise pela Camex é aumentar a cota de isenção temporária até 1º de julho de 2026, conciliando as demandas da BYD e da Anfavea.

A decisão final será discutida entre dez ministérios que compõem a Camex, e pode definir o rumo da indústria de carros elétricos no país nos próximos anos.

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