Alerta silencioso: tuberculose avança no RS e desafia autoridades de saúde

Doença grave tem baixa taxa de cura no estado e afeta com mais intensidade populações vulneráveis

Apesar dos avanços em vigilância e testagem, o Rio Grande do Sul enfrenta um quadro preocupante no combate à tuberculose. A taxa de cura da doença no estado ficou em apenas 52,5% em 2023, bem abaixo da meta de 85% estabelecida pela Organização Mundial da Saúde. Ao mesmo tempo, 18,5% dos pacientes abandonam o tratamento antes da conclusão, o que favorece a propagação do bacilo de Koch, bactéria transmissível pelo ar e causadora da tuberculose. Os dados fazem parte do Informe Epidemiológico 2025, elaborado por órgãos estaduais de saúde, como o Hospital Sanatório Partenon e o Centro Estadual de Vigilância em Saúde.

A desigualdade regional é evidente nos índices da doença. A 1ª Coordenadoria Regional de Saúde, que abrange cidades como Porto Alegre, Canoas e Gravataí, registra a maior incidência no estado: 64,5 casos por 100 mil habitantes, superando até a média nacional. Em contraste, a 14ª CRS é a única com taxa inferior a 10 casos por 100 mil, patamar considerado compatível com a eliminação da tuberculose como problema de saúde pública. A maior carga da doença se concentra em cidades que, nos últimos cinco anos, registraram 100 ou mais casos novos, totalizando 58% de toda a incidência no RS.

Grupos sociais em situação de vulnerabilidade são os mais atingidos, especialmente pessoas em situação de rua, detentos, imigrantes e autodeclarados pretos ou pardos. A crise humanitária causada pelas enchentes de 2024 agravou ainda mais esse cenário, dificultando o acesso a tratamento e ampliando as desigualdades sociais. Outro dado que chama atenção é a coinfecção com HIV: o RS teve a segunda maior taxa do país em 2024, com 17,8%. Esse grupo apresenta menor chance de cura e maior risco de morte, o que aumenta a complexidade do atendimento.

Para conter o avanço da doença, a estratégia inclui ações descentralizadas e acompanhamento direto do tratamento, com profissionais garantindo que os pacientes tomem a medicação corretamente. A vacinação com a BCG, disponível gratuitamente na rede pública, segue sendo fundamental na proteção de crianças e adolescentes. A coordenadora do Programa Estadual de Controle da Tuberculose, Carla Jarczewski, destaca que o abandono do tratamento é uma das maiores barreiras para o controle da doença. Ela reforça a importância da capacitação constante das equipes municipais e da busca ativa por novos casos como formas de frear o contágio e evitar casos graves.

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