O câncer de pulmão já não é mais uma doença restrita aos fumantes. Estima-se que até um quarto dos diagnósticos no mundo ocorram em pessoas que nunca acenderam um cigarro, sendo que, em grupos específicos, como mulheres asiáticas, esse percentual pode chegar a 50%. No Brasil, o Instituto Nacional de Câncer (INCA) prevê mais de 32 mil novos casos em 2025, dos quais cerca de 6 mil atingirão não fumantes. A ausência de protocolos de rastreamento para quem não tem histórico de tabagismo e a semelhança dos sintomas com outras condições fazem com que o diagnóstico muitas vezes seja tardio, reduzindo as chances de tratamento eficaz.
Pesquisas recentes têm apontado para causas multifatoriais, que incluem poluição atmosférica — que afeta 95% da população mundial —, predisposição genética, fumo passivo, exposição ao radônio e até vapores de óleo de cozinha. Estudos como o “Sherlock Lung”, publicado na revista Nature, identificaram mutações genéticas mais comuns em áreas com altos níveis de poluição, como Hong Kong e Taiwan. Além disso, tumores em não fumantes costumam apresentar mutações específicas que aceleram o crescimento celular, o que explica parte da maior incidência em pessoas mais jovens e sem histórico de tabagismo.
Enquanto países como Taiwan já adotam a tomografia de baixa dose para rastrear grupos de não fumantes com histórico familiar da doença, no Brasil o exame ainda é recomendado apenas para indivíduos com histórico intenso de fumo. Nos Estados Unidos, pesquisas com mulheres de ascendência asiática mostram resultados semelhantes aos asiáticos, reforçando a necessidade de atualizar diretrizes. Para especialistas, romper o estigma de que o câncer de pulmão é exclusividade dos fumantes é urgente, pois a falta dessa compreensão atrasa diagnósticos e compromete vidas. Além de informar, campanhas também incentivam hábitos saudáveis e a realização de exames preventivos, lembrando que qualquer pessoa pode estar em risco.