A carne bovina nos Estados Unidos atingiu valores nunca antes registrados, refletindo um cenário de escassez agravado por uma combinação de fatores climáticos e políticos. O preço médio da carne para churrasco chegou a quase R$ 150 o quilo, enquanto a carne moída, essencial para hambúrgueres, ultrapassou os R$ 75. Esses aumentos, de mais de 9% e 15% em seis meses respectivamente, colocam o alimento no centro da inflação alimentar do país.
Um dos principais motivos é a estiagem prolongada, que vem devastando os rebanhos norte-americanos ao reduzir a produtividade dos animais e o volume de abates. Segundo dados do Departamento de Agricultura dos EUA (USDA), a produção de carne bovina neste ano deve cair para 25,9 bilhões de libras, o menor patamar em pelo menos dez anos. Essa queda representa um recuo de 4% em relação às estimativas do início do ano e mostra os efeitos duradouros das mudanças climáticas sobre o setor agropecuário.
Além do clima adverso, dois obstáculos comerciais ampliaram a crise de abastecimento: a imposição de uma tarifa de 50% sobre a carne brasileira e a manutenção de restrições sanitárias à importação de gado vivo do México devido à presença da praga NWS (New World Screwworm). Estima-se que, apenas em 2026, as importações americanas possam ser até 7,5% menores por conta dessas barreiras. O USDA prevê uma redução de cerca de 180 mil toneladas de carne vinda do Brasil, agravando ainda mais a escassez no mercado interno.
Para tentar reverter parte do quadro, o governo norte-americano lançou um plano de combate à praga mexicana, que inclui a construção de uma fábrica de moscas estéreis no Texas. No entanto, essas medidas são de médio e longo prazo, e não devem surtir efeito imediato. Enquanto isso, os consumidores americanos seguem sentindo no bolso os efeitos dessa “tempestade perfeita” que envolve clima, diplomacia e saúde animal.