O ensino superior no Rio Grande do Sul passou por mudanças expressivas nas duas últimas décadas, com destaque para a expansão da educação a distância (EaD) e a alteração no perfil de ingresso e matrícula. Essas transformações são tema de duas Notas Técnicas divulgadas nesta terça-feira (19/8) pelo Departamento de Economia e Estatística (DEE), vinculado à Secretaria de Planejamento, Governança e Gestão (SPGG).
Enquanto a EaD apresentou crescimento contínuo nas últimas duas décadas, a graduação presencial registrou retração após um período de expansão que se estendeu até 2015. Em 2019, o número de ingressantes em cursos EaD superou o da graduação presencial, o mesmo ocorrendo no caso do número de matrículas em 2022, mantendo trajetória ascendente nos anos seguintes.
Elaboradas pelo pesquisador Lívio Luiz Soares de Oliveira, as análises abrangem o período de 2000 a 2022, além de detalhar a evolução das modalidades presencial e a distância no Estado, considerando indicadores como número de instituições, cursos, inscritos, vagas, ingressos, matrículas e concluintes.
Educação a distância ultrapassa a presencial
De acordo com as análises, o número de matrículas em 2022 nos cursos EaD foi de 316.642, superando, pela primeira vez, o número de matrículas de cursos presenciais, que foi de 259.423. No mesmo ano, entre os ingressantes, 74,4% dos novos estudantes optaram pela EaD, enquanto 25,6% ingressaram em cursos presenciais. As notas apontam que a graduação presencial apresentou crescimento até 2015, quando atingiu seu pico histórico de matrículas, seguido de um movimento de queda contínua até 2022.
Taxa de escolarização e participação das Instituições de Ensino Superior públicas
A taxa de escolarização líquida da graduação, que mede a proporção de jovens de 18 a 24 anos matriculados no ensino superior em relação ao total dessa faixa etária, atingiu 26,6% no Rio Grande do Sul em 2022. Embora ainda esteja aquém da taxa estipulada pelo Plano Nacional de Educação (PNE) de 2014 para o ano de 2024 (33%), em termos de acesso, o ensino superior gaúcho está próximo de se consolidar como um sistema massificado (30% de taxa de matrícula líquida).
Em 2022, a participação de novas matrículas no sistema público de ensino superior alcançou 37,13% do total, próximo da meta estabelecida pelo PNE de 2014 para o ano de 2024 (40%). No ano 2000, o indicador era de 17,89%, resultando em um crescimento de 107,5% no período.
Fatores que influenciam a escolha dos cursos
As análises também apontam que a decisão de ingressar em um curso superior é resultado de fatores interligados. Entre os fatores individuais, destacam-se o interesse pessoal pela área, afinidade com disciplinas do ensino médio e a localização da instituição. Já os fatores sociais e econômicos incluem prestígio do curso e da instituição, custo da mensalidade, demanda do mercado de trabalho, condições socioeconômicas familiares e políticas públicas como Prouni, Fies e cotas. Nos fatores institucionais, influenciam a escolha aspectos como qualidade do corpo docente, infraestrutura, oferta de vagas, modalidade de ensino (presencial ou EaD) e ações de marketing das instituições.
Cursos mais procurados
Na rede pública presencial, Medicina foi o curso de maior demanda em 2022, com 27.955 inscritos. Administração ocupou a liderança com 4.617 matrículas e com 1.268 ingressantes. Na rede privada presencial, Direito teve 33.871 inscritos e 30.826 matrículas, sendo o mais buscado, seguido por Medicina e Psicologia.
Na modalidade EaD, na rede pública, Pedagogia foi o curso mais procurado, liderando em matrículas (1.384) e concluintes (261). Na rede privada, Pedagogia também ocupou a primeira posição em matrículas (37.257) e concluintes (6.531), enquanto Administração liderou em ingressantes (20.652).
Expansão da EaD e desafios do sistema
O ensino superior no Rio Grande do Sul, pela evolução do número de instituições, cursos, vagas, inscritos, ingressantes, matrículas e concluintes, cresceu de forma significativa no período entre 2000 e 2022, impulsionado principalmente pela expansão do número de instituições privadas e da EaD.
A plena consolidação de uma maior representatividade feminina no ensino superior do Rio Grande do Sul é destacada como um processo com impactos relevantes e desafios a serem enfrentados. No que diz respeito à composição racial, os indicadores mostram que estudantes brancos e amarelos estão sobrerrepresentados, enquanto pretos e pardos seguem sub-representados no ingresso, permanência e conclusão dos estudos, ainda que essas disparidades tenham diminuído durante o período analisado.