Em um movimento inesperado, o governo dos Estados Unidos passou a deter quase 10% das ações da Intel sem desembolsar qualquer quantia. O anúncio foi feito pelo próprio presidente Donald Trump em sua rede social, onde comemorou o acordo e afirmou que os papéis agora valem cerca de US$ 11 bilhões. O negócio envolve 433,3 milhões de ações, o que representa 9,9% da companhia, porém sem direito a voto ou assento no conselho. A transação está vinculada à liberação de US$ 8,87 bilhões em subsídios previstos pela CHIPS and Science Act, lei sancionada em 2022 para incentivar a indústria de
semicondutores nos EUA.
A decisão surge após um mês conturbado de relações entre Trump e a Intel. O presidente havia exigido a saída imediata do CEO Lip-Bu Tan por alegadas conexões com empresas chinesas de tecnologia. Em resposta, Tan buscou diálogo e se reuniu com Trump na Casa Branca, o que transformou a tensão em um acordo estratégico. Trump chegou a declarar que o CEO “entrou querendo manter o emprego e acabou nos dando US$ 10 bilhões para os Estados Unidos”. Após o acerto, o presidente elogiou publicamente o executivo.
O impacto imediato do anúncio foi positivo: as ações da Intel subiram mais de 7%, trazendo algum alívio à empresa, que vive um momento delicado. A companhia enfrenta queda na fatia de mercado e desafios tecnológicos frente a concorrentes como a TSMC. Ainda assim, especialistas apontam que o aporte governamental, por si só, não resolve os problemas estruturais da fabricante. A Intel segue dependente de demanda concreta, especialmente para viabilizar seu ambicioso polo de produção de chips em Ohio, que tem enfrentado seguidos atrasos.
A aquisição faz parte de uma estratégia mais ampla do governo norte-americano para ampliar sua influência no setor de tecnologia. Recentemente, a administração Trump fechou acordos para capturar 15% da receita da Nvidia e da AMD com vendas à China e adquiriu US$ 400 milhões em ações da MP Materials, empresa estratégica no fornecimento de terras raras. Esses movimentos reforçam a intenção de garantir maior controle sobre cadeias de suprimento críticas e fortalecer a soberania tecnológica do país.