Uma das maiores investigações já realizadas no país contra o crime organizado revelou um sofisticado sistema de lavagem de dinheiro e adulteração de combustíveis liderado pelo Primeiro Comando da Capital (PCC). A chamada Operação Carbono Oculto mobilizou mais de 1,4 mil agentes em oito estados e desvendou uma teia de corrupção que envolvia empresas de fachada, fundos de investimento e até importações fraudulentas de metanol. As autoridades estimam que a quadrilha movimentou cerca de R$ 52 bilhões entre 2020 e 2024, usando mais de mil postos de gasolina como fachada.
A estrutura do esquema incluía a compra de quatro usinas de álcool, 1.600 caminhões, mais de cem imóveis e um terminal portuário, todos usados para ocultar a origem ilícita do dinheiro. Além disso, o grupo controlava ao menos 40 fundos de investimento, entre multimercado e imobiliários, totalizando mais de R$ 30 bilhões em patrimônio. Esses fundos funcionavam como camadas de proteção para dificultar o rastreamento financeiro. Um dos principais canais de movimentação era o BK Bank, uma fintech que sozinha teria transferido R$ 46 bilhões, funcionando como banco paralelo do PCC.
As investigações também revelaram a infiltração da facção em órgãos de segurança: policiais civis e militares estariam atuando diretamente a serviço do PCC em São Paulo. Um dos episódios mais emblemáticos foi o assassinato do delator Antônio Vinícius Gritzbach, morto no aeroporto de Guarulhos meses após denunciar o esquema. A operação atingiu empresas como o Grupo Aster/Copape e o fundo Reag, acusados de intermediar a compra de ativos e proteger o patrimônio da organização criminosa.
Apesar da abrangência nacional, o Rio Grande do Sul não teria sofrido diretamente com a adulteração de combustíveis, embora autoridades confirmem que uma facção local operava um esquema semelhante na revenda de postos. A ação conjunta da Polícia Federal, Receita Federal, Ministérios Públicos e forças de segurança estaduais é considerada um marco no combate às redes criminosas que utilizam o sistema financeiro e o setor de combustíveis para enriquecer e se expandir de forma clandestina.