Lula propõe ação conjunta do Brics contra tarifas impostas pelos Estados Unidos
Presidente diz que não vê espaço para diálogo com Trump e promete medidas para proteger empresas brasileiras

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou nesta quarta-feira, 6 de agosto, que irá articular uma resposta conjunta com os países do Brics contra as novas tarifas impostas pelos Estados Unidos. Em entrevista à agência Reuters, Lula revelou que pretende conversar com o primeiro-ministro da Índia, Narendra Modi, e com o presidente da China, Xi Jinping, para debater as consequências das sanções e buscar uma posição unificada.
“Vou tentar fazer uma discussão com eles sobre como cada um está dentro da situação, qual é a implicação que tem em cada país, para a gente poder tomar uma decisão”, afirmou Lula, destacando que dez dos países que compõem o Brics também fazem parte do G20, o grupo das maiores economias do mundo.
As declarações ocorrem no mesmo dia em que entram em vigor tarifas de 50% sobre parte das exportações brasileiras para os Estados Unidos. Além disso, o presidente americano, Donald Trump, assinou um decreto que impõe tarifa adicional de 25% sobre produtos indianos, alegando que o país consome petróleo russo.
Segundo Lula, a prioridade do governo neste momento é proteger o emprego e apoiar as empresas brasileiras na busca por novos mercados. Uma medida provisória com as ações planejadas em resposta ao tarifaço está sendo elaborada pelo Ministério da Fazenda e será enviada ainda hoje ao Palácio do Planalto.
“Eu não liguei porque ele não quer telefonema. Não tenho por que ligar para o presidente Trump, porque nas cartas que ele mandou e nas suas decisões ele não fala em nenhum momento em negociação, o que ele fala é em novas ameaças”, declarou Lula. Ele reiterou que está disposto a negociar, mas que não aceitará imposições unilaterais. “Não quero ter o mesmo comportamento do presidente Trump. Quero mostrar que quando um não quer, dois não brigam.”
Lula criticou duramente o caráter autoritário das sanções: “O Brasil recebeu o comunicado da taxação de forma totalmente autoritária. Não é assim que estamos acostumados a negociar.”
O presidente também reagiu às críticas feitas por Trump à legislação brasileira que regula as big techs. “Esse país é soberano, tem uma Constituição, tem uma legislação. É nossa obrigação regular o que a gente quiser regular de acordo com os interesses e a cultura do povo brasileiro. Se não quiser regulação, saia do Brasil”, enfatizou.
Em tom firme, Lula classificou a postura do presidente americano como uma tentativa de interferência: “Não é admissível que os Estados Unidos ou qualquer país, grande ou pequeno, resolva dar um pitaco na nossa soberania.”
“Ele que cuide dos Estados Unidos. Do Brasil, cuidamos nós. Só tem um dono esse país, e só um dono que manda no presidente da República: é o povo, o povo que elegeu, o povo que pode tirar”, concluiu.