Líderes do Brics propõem fortalecer comércio entre países do bloco em resposta a tarifas dos EUA

Cúpula virtual convocada por Lula debate multilateralismo, governança global e crise climática
Os líderes do Brics discutiram, nesta segunda-feira, 8 de setembro, o fortalecimento dos mecanismos de comércio e cooperação entre os países membros, em resposta às novas tarifas comerciais impostas pelos Estados Unidos. A reunião foi organizada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que convocou a cúpula virtual como parte da presidência rotativa do Brasil no grupo em 2025.
Durante seu discurso, Lula enfatizou que o comércio e a integração financeira entre os países do Brics representam uma alternativa segura ao protecionismo, destacando a legitimidade do bloco para liderar uma refundação do sistema multilateral de comércio. Ele também ressaltou o papel do Novo Banco de Desenvolvimento na diversificação econômica dos países membros.
“Juntos, representamos 40% do PIB global, 26% do comércio internacional e quase 50% da população mundial. Temos entre nós grandes exportadores e consumidores de energia. Reunimos condições para promover uma industrialização verde, com foco em setores de alta tecnologia”, afirmou o presidente.
Lula ainda criticou fortemente as medidas unilaterais adotadas por países desenvolvidos, especialmente os Estados Unidos, ao afirmar que princípios como Tratamento Nacional e Nação Mais Favorecida foram abandonados. Segundo ele, há uma “chantagem tarifária” sendo normalizada como estratégia geopolítica.
A reunião também abordou temas como:
- A proposta da Iniciativa de Governança Global (IGG), apresentada pelo presidente chinês Xi Jinping;
- A preparação para a 14ª Conferência Ministerial da OMC, que acontecerá em Camarões;
- A defesa de reformas em instituições multilaterais como o Conselho de Segurança da ONU.
Crises internacionais e a COP30
Lula aproveitou a ocasião para criticar a ineficiência da comunidade internacional na resolução de conflitos, como as guerras na Ucrânia e na Faixa de Gaza, e condenou a presença militar dos EUA no Caribe, que considera um fator de tensão desnecessário na região.
Também foi reforçado o convite para a 30ª Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas (COP30), que será realizada em Belém, em novembro. O presidente brasileiro sugeriu a criação de um Conselho de Mudança do Clima da ONU, com o objetivo de integrar esforços atualmente fragmentados.
“A COP30 será o momento da verdade e da ciência. Precisamos de uma governança climática forte, que exerça supervisão efetiva”, defendeu.
Por fim, os líderes trocaram impressões sobre a 80ª Assembleia Geral da ONU, que ocorrerá no fim deste mês em Nova York. Lula destacou a importância de um multilateralismo digital democrático, criticando a concentração de poder tecnológico em poucas empresas e propondo ecossistemas digitais nacionais e regulados.
Participaram da cúpula virtual os líderes da China, Egito, Indonésia, Irã, Rússia, África do Sul, o príncipe herdeiro dos Emirados Árabes Unidos, o chanceler da Índia e o vice-ministro das Relações Exteriores da Etiópia.
Criado em 2009, o Brics atualmente conta com 13 membros, após a adesão de Arábia Saudita, Egito, Emirados Árabes Unidos, Etiópia, Indonésia e Irã em 2024.