A mais recente descoberta do rover Perseverance, da Nasa, pode marcar um divisor de águas na busca por vida extraterrestre. Uma amostra de rocha batizada de Sapphire Canyon, recolhida em Neretva Vallis, revelou compostos que, no contexto terrestre, costumam estar ligados à presença e à atividade de microrganismos. Substâncias como vivianita (fosfato de ferro) e greigita (sulfeto de ferro) costumam ser associadas à decomposição de matéria orgânica em ambientes úmidos, como deltas e lagoas. A análise desses elementos sugere que, há bilhões de anos, Marte pode ter abrigado condições favoráveis à vida microscópica.
O estudo, publicado pela revista Nature, foi apresentado oficialmente em uma coletiva da Nasa, sendo considerado por especialistas como a evidência mais próxima já registrada de que o planeta vermelho tenha abrigado formas de vida no passado. Apesar do entusiasmo, os cientistas mantêm os pés no chão. Segundo a agência, reações químicas não biológicas também podem formar compostos semelhantes, especialmente em ambientes extremos. Por isso, apenas uma investigação mais profunda, com análises laboratoriais aqui na Terra, poderá confirmar a verdadeira origem dos minerais encontrados.
Desde sua chegada a Marte em 2021, o rover já coletou 30 amostras seladas e ainda pode armazenar mais seis. O objetivo é que parte desse material retorne ao nosso planeta por meio do ambicioso projeto Mars Sample Return, uma parceria entre a Nasa e a ESA (Agência Espacial Europeia). Apesar de atrasos e do aumento de custos — que passaram de US$ 5 bilhões para US$ 11 bilhões —, a missão segue como prioridade. A agência estuda alternativas comerciais para baratear e acelerar o envio das amostras, que poderão esclarecer se realmente já existiu vida em Marte.