Wellness: de bons hábitos a práticas que ameaçam a vida de jovens

O termo wellness é usado para definir a busca pelo bem-estar físico, mental e espiritual. Mais do que atividade física e dieta, trata-se de um estilo de vida que organiza o ambiente em função de hábitos considerados saudáveis.
Entre os jovens, a adesão ao movimento cresce em ritmo acelerado: corrida, musculação, pilates e outras práticas se multiplicam nas rotinas diárias. O contraste, no entanto, chama a atenção. Se há poucos anos o discurso dominante era o do movimento Body Positive, incentivando a aceitação dos corpos, hoje a magreza extrema volta a ser tendência entre mulheres, enquanto corpos cada vez mais musculosos viram padrão entre os homens.
Para muitos, o wellness surge como resposta a uma vida estressante e acelerada. Cuidar do corpo e da mente é positivo. O problema começa quando o bem-estar deixa de ser uma escolha pessoal e passa a se transformar em espetáculo para uma plateia digital. Nesse ponto, a rotina saudável ganha contornos de competição.
E quando a disputa deixa de ser consigo mesmo e passa a ser com a internet inteira, surgem os riscos. Jovens recorrem ao uso indiscriminado de medicamentos e substâncias para acelerar resultados: de remédios para emagrecimento, como o Ozempic, a suplementos sem necessidade real, até os esteroides anabolizantes.
Entre os homens, testosterona, trembolona e até insulina entram na lista de drogas utilizadas de forma clandestina, na maioria das vezes sem orientação médica. O preço da performance pode ser alto, envolvendo distúrbios hormonais, problemas cardiovasculares e até risco de morte.
Para o Dr. Arthur Guerra, psiquiatra especialista em saúde mental e estilo de vida, esse cenário está diretamente ligado às desigualdades socioeconômicas. “Os índices alarmantes de saúde mental estão profundamente conectados a fatores como pobreza, desemprego e insegurança econômica”, afirmou em entrevista à Forbes. Além disso, ele aponta que a falta de estrutura e os desafios ambientais, aliados ao uso excessivo da tecnologia, também contribuem para esse quadro.
Na mesma conversa, Guerra explicou como o conceito de wellness se diferencia das práticas tradicionais de saúde. “Wellness vai além da ausência de doenças; ele envolve um bem-estar integral, que contempla a saúde física, mental, emocional, social e financeira. Não se trata apenas de tratar problemas pontuais, mas de cultivar uma vida equilibrada. Já as práticas tradicionais, muitas vezes, se concentram no tratamento de doenças instaladas”, destacou à Forbes.
Ao mesmo tempo em que representa uma oportunidade para repensar os hábitos e priorizar o autocuidado, o wellness pode se tornar uma armadilha quando transformado em performance e busca incessante por resultados. O desafio das novas gerações está em equilibrar a busca por bem-estar sem cair nos excessos que acabam colocando a saúde em risco.