Descoberta pode explicar por que o Alzheimer atinge mais mulheres do que homens

Descoberta pode explicar por que o Alzheimer atinge mais mulheres do que homensPesquisadores identificam baixa concentração de carnitina como possível elo entre o sexo feminino e maior vulnerabilidade à doença

Um estudo conjunto entre cientistas brasileiros e norte-americanos revelou uma possível explicação para o fato de as mulheres apresentarem o dobro de risco de desenvolver Alzheimer em comparação aos homens. A pesquisa mostrou que, entre mulheres com declínio cognitivo — desde estágios leves até a demência avançada —, os níveis de acetil-L-carnitina e carnitina livre no sangue são significativamente menores que os observados em indivíduos saudáveis. Além disso, quanto mais grave o quadro, mais baixos eram esses níveis, o que sugere uma ligação direta entre a carnitina e a progressão da doença.

O trabalho, publicado na revista Molecular Psychiatry e apoiado pela Faperj e pelo Instituto Serapilheira, envolveu pesquisadores da UFRJ, Instituto D’Or, Universidade de Nova York, Duke e Universidade da Califórnia em Irvine. Eles analisaram amostras de sangue e líquor de 125 pacientes no Brasil e nos Estados Unidos, encontrando uma forte correlação entre a carnitina e os marcadores clássicos do Alzheimer — beta-amiloide e proteína tau. Essa descoberta pode abrir novas perspectivas para tratamentos e métodos diagnósticos menos invasivos, além de ajudar a compreender as diferenças biológicas entre os sexos no desenvolvimento da demência.

Segundo o neurocientista Marcelo Lourenço, da UFRJ, a carnitina desempenha um papel protetor no cérebro. Quando suas concentrações caem, o órgão se torna mais vulnerável ao dano cognitivo — algo que parece ocorrer de forma mais acentuada em mulheres. Estudos anteriores com animais já haviam mostrado que a suplementação com acetil-L-carnitina melhora a função cerebral, reforçando a hipótese de que essa molécula é essencial para o metabolismo energético das células e para a proteção dos neurônios.

A diferença entre os sexos pode ser explicada também por três fatores adicionais: questões hormonais, variações genéticas ligadas ao cromossomo X e desigualdades socioeconômicas históricas. Enquanto os homens mantêm níveis mais estáveis de testosterona ao longo da vida, as mulheres enfrentam flutuações intensas de estrogênio e progesterona — especialmente na menopausa, fase em que o risco de Alzheimer aumenta. Além disso, gerações mais antigas de mulheres tiveram menos acesso à educação formal, o que pode ter limitado a construção da chamada “reserva cognitiva” que protege o cérebro contra o avanço da doença.

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