Uma denúncia simples, envolvendo um prejuízo de apenas R$ 44, levou à descoberta de uma das maiores fraudes digitais já investigadas pela Polícia Civil. A quadrilha utilizava vídeos manipulados com inteligência artificial, conhecidos como deepfakes, para simular celebridades como Gisele Bündchen recomendando produtos de beleza inexistentes. As vítimas, atraídas por promoções falsas, eram levadas a sites clonados onde forneciam seus dados e realizavam pagamentos. Parte do golpe também envolvia uma plataforma falsa de apostas, inspirada em sites regulamentados.
A operação batizada de Modo Selva cumpriu 26 mandados em cinco estados brasileiros, com destaque para a prisão de um dos líderes do esquema em Canoas (RS). A organização criminosa contava com estrutura hierárquica definida, incluindo programadores, operadores financeiros, multiplicadores digitais e facilitadores de pagamento. O grupo lavava o dinheiro por meio de contas de laranjas e empresas de fachada, e chegou a movimentar R$ 20 milhões. Como resposta, a Justiça determinou o bloqueio de contas, sequestro de veículos de luxo e congelamento de ativos que podem atingir R$ 210 milhões.
Segundo os investigadores, os golpistas — muitos deles jovens sem antecedentes — agiam com sofisticação tecnológica e exibiam uma vida de ostentação. O golpe atingia principalmente idosos e pessoas com baixo conhecimento digital, o que explicaria a subnotificação dos crimes, já que muitos preferiam não denunciar. A Polícia reforça que o fato de não haver violência física não isenta de punições severas: os envolvidos devem responder por estelionato eletrônico, lavagem de dinheiro, jogo ilegal e formação de quadrilha.