O governo federal vai instituir um comitê de enfrentamento da crise do metanol, com a participação da sociedade civil e de entidades representativas do setor de bebidas. O anúncio foi feito pelo ministro da Justiça e Segurança Pública, Ricardo Lewandowski, após reunião realizada nesta terça-feira, 7 de outubro, em Brasília, com autoridades e representantes de associações da indústria de bebidas.
Segundo Lewandowski, o objetivo é articular medidas repressivas e protetivas para combater a adulteração de bebidas e, ao mesmo tempo, preservar o funcionamento de um setor que, segundo ele, é “de grande importância para a economia brasileira”.
“Tivemos uma discussão bastante frutífera e chegamos à conclusão de que seria importante montar um comitê de enfrentamento da crise do metanol”, afirmou o ministro.
O comitê será informal e servirá como espaço para troca de informações sobre boas práticas, medidas adotadas e cooperação entre o setor público e privado, buscando uma solução rápida para o problema.
Lewandowski destacou que o governo precisa atuar em conjunto com a iniciativa privada e a sociedade civil:
“Em um país continental como o nosso, com 210 milhões de habitantes e realidades regionais distintas, o governo precisa conjugar-se com a sociedade para enfrentar esses desafios.”
Crise econômica e repressão a irregularidades
O ministro classificou a situação das bebidas contaminadas como uma “crise econômica”, ressaltando que o setor é responsável por gerar empregos, pagar impostos e contribuir para o desenvolvimento nacional.
“Nossa preocupação é separar com clareza aqueles que trabalham dentro da lei dos que cometem fraudes. Teremos ações repressivas, administrativas e até o fechamento de estabelecimentos, se necessário”, afirmou.
Setor produtivo e fiscalização
A reunião contou com representantes da Abrabe, ABBD, CNI, FNCP e ABCF, além de dirigentes da Diageo, uma das maiores empresas do setor.
O secretário nacional do Consumidor, Paulo Pereira, informou que dezenas de estabelecimentos já foram notificados, incluindo bares, distribuidoras e fabricantes suspeitos.
“Até hoje, tínhamos 15 estabelecimentos identificados e notificados. Agora temos mais 15, além de cerca de 25 distribuidoras e entidades que também foram notificadas para prestar informações”, explicou.
Ele acrescentou que várias empresas foram fechadas e que a operação entra agora em uma fase de inteligência, com cruzamento de dados e identificação de possíveis fornecedores ilegais.
“Ninguém melhor que os distribuidores e associações para nos ajudar a identificar quem são os fornecedores legalizados e quem são os ilegais”, disse Pereira.
Investigação e possíveis vínculos criminosos
O ministro Lewandowski afirmou que todas as hipóteses estão sendo investigadas, incluindo a participação de organizações criminosas. Caminhões abandonados com combustíveis levantaram suspeitas sobre o possível envolvimento de redes ilícitas.
Segundo ele, as investigações ainda estão no início e buscam determinar inclusive a origem do metanol — se vegetal ou fóssil.
Risco à saúde e emergência médica
A intoxicação por metanol é uma condição médica grave. A substância, quando ingerida, transforma-se em compostos altamente tóxicos, como formaldeído e ácido fórmico, que podem levar à cegueira ou morte.
Os principais sintomas incluem visão turva, náuseas, vômitos, dores abdominais e sudorese. Em caso de suspeita, é fundamental buscar atendimento médico imediato e acionar os seguintes serviços:
- Disque-Intoxicação da Anvisa: 0800 722 6001
- Centro de Controle de Intoxicações de São Paulo (CCI): (11) 5012-5311 ou 0800-771-3733
- CIATox da cidade para orientação especializada
A rápida identificação e atendimento médico são decisivos para evitar desfechos fatais.
“Precisamos separar o joio do trigo”, concluiu Lewandowski, destacando que o governo vai punir quem adultera bebidas e proteger quem atua dentro da lei.