Megaoperação reacende debate sobre GLO e expõe tensão entre governo federal e Rio de Janeiro
Com 64 mortos, ação nas comunidades do Alemão e da Penha levanta questionamentos sobre uso das Forças Armadas e limites da intervenção federal

A violenta operação policial realizada nos complexos do Alemão e da Penha, no Rio de Janeiro, na última terça-feira (28), trouxe de volta à pauta a Garantia da Lei e da Ordem (GLO) — instrumento que permite a atuação das Forças Armadas em apoio à segurança pública, mas que só pode ser acionado por decreto do presidente da República. A ofensiva mobilizou cerca de 2.500 agentes das polícias Civil e Militar e resultou em 64 mortes, sendo 60 suspeitos e quatro policiais. O número representa o maior índice de letalidade já registrado em uma única ação no estado.
A pressão por apoio federal cresceu após a operação. O governador Cláudio Castro criticou a falta de respaldo por parte da União e afirmou que o estado está “sozinho” no combate ao crime organizado. Ele revelou que três pedidos de blindados ao Exército foram negados, todos sem a autorização necessária do Palácio do Planalto. Em fevereiro, a Advocacia-Geral da União já havia negado oficialmente um pedido semelhante feito em janeiro, argumentando que o envio de tropas ou equipamentos militares só se enquadra na GLO com autorização expressa da presidência.
Apesar da repercussão e do agravamento da crise de segurança, o governo federal descartou, por ora, decretar a GLO. A última vez que essa medida foi aplicada no Rio foi durante a cúpula do G20, em novembro do ano passado. A GLO já foi usada anteriormente para combater o crime organizado em portos e aeroportos do estado, mas continua sendo vista como uma solução extrema e pontual. A recente operação e a escalada de violência reacenderam o debate sobre a eficácia e os riscos do uso militar em áreas urbanas, expondo o desafio da integração entre as esferas estadual e federal no enfrentamento ao poder das facções.






