Uruguai entra para o grupo de países que permitem a eutanásia
Lei “Morte Digna” é aprovada no Senado e aguarda sanção presidencial; medida tem amplo apoio popular e reforça perfil progressista do país.

O Uruguai deu um passo histórico ao aprovar o projeto de lei que legaliza a eutanásia em todo o território nacional, tornando-se o primeiro país do Cone Sul a autorizar o procedimento. Conhecida como “Lei da Morte Digna”, a proposta foi aprovada no Senado nesta terça-feira (15) com apoio majoritário da Frente Ampla, coalizão de esquerda que governa o país. O texto, que já havia passado pela Câmara dos Deputados em agosto, segue agora para a sanção do presidente Yamandú Orsi, favorável à medida desde o início das discussões.
A nova legislação, debatida há mais de uma década, estabelece que apenas maiores de idade, cidadãos ou residentes em pleno uso de suas faculdades mentais poderão solicitar o procedimento, desde que enfrentem doenças terminais incuráveis ou sofrimentos físicos e emocionais insuportáveis. O pedido deverá ser feito por escrito e na presença de testemunhas, seguindo um protocolo rigoroso de avaliação médica. Com isso, o Uruguai se junta a um grupo restrito de países como Canadá, Espanha, Nova Zelândia e Países Baixos — além de Colômbia e Equador, únicos na América Latina a reconhecer o direito à morte assistida.
Entre as vozes que personificam a luta pela aprovação da eutanásia está Beatriz Gelós, de 71 anos, portadora de Esclerose Lateral Amiotrófica (ELA). Em cadeira de rodas e com fala dificultada, ela comemorou a decisão afirmando que a lei “traz paz e dignidade a quem já não encontra alívio”. Também emocionada, a ativista Florencia Salgueiro, do grupo Empathy, lembrou a batalha do pai, que morreu sem conseguir acesso à eutanásia, e destacou que o projeto é “um ato de respeito ao desejo e à liberdade individual”.
Apesar da aprovação popular — 62% dos uruguaios apoiam a medida, segundo pesquisa da consultoria Cifra —, o projeto encontra resistência de setores religiosos e conservadores. A Igreja Católica manifestou “tristeza” diante da votação, e grupos contrários alertam para possíveis riscos às pessoas mais vulneráveis. Ainda assim, para muitos uruguaios, a decisão reafirma o caráter progressista e humanitário de um país que já havia se destacado por legislar sobre temas como o aborto, o casamento homoafetivo e a regulamentação da cannabis.