Documentos da escravidão são recuperados pelo MP-RS e ajudam a recontar a história negra no estado

No Dia da Consciência Negra, resgate de registros históricos expõe a violência do regime escravocrata e fortalece ações de memória, reparação e justiça
Sete documentos originais do período da escravidão, que estavam sendo comercializados ilegalmente, foram recuperados graças à atuação do Ministério Público do Rio Grande do Sul (MP-RS). A ação, articulada pelo GAECO Sul, teve início em abril, após a descoberta de que dois irmãos, comerciantes de livros raros, exibiam os documentos em redes sociais e os ofereciam por até R$ 10 mil. A partir da denúncia do Arquivo Público do Estado (APERS), o MP obteve mandados de busca e apreensão, impedindo que esse patrimônio histórico fosse perdido para o comércio ilegal.
Cinco desses registros foram localizados durante a operação policial, enquanto outros dois foram entregues espontaneamente por um colecionador de Minas Gerais, sensibilizado pela divulgação do caso. Atualmente, seis documentos estão sob a guarda do APERS, com parte já disponível para consulta em Porto Alegre e dois em processo de restauração. O sétimo foi devolvido ao município de Arroio Grande, onde ficará exposto no museu local. Entre os registros estão cartas de alforria, matrículas de pessoas escravizadas e documentos que revelam fugas e resistências, emitidos por órgãos da antiga província de Rio Grande.
Para historiadores e representantes de comunidades quilombolas, esses documentos são mais do que arquivos — são testemunhos de sofrimento, resistência e humanidade negada. Gabriel Gaziero, do APERS, e Ubirajara Toledo, do IACOREQ, destacaram o valor inestimável desses registros na reconstrução da memória coletiva e no enfrentamento das marcas deixadas pelo sistema escravocrata. “Esse resgate é uma forma concreta de produzir conhecimento, justiça e reparação histórica, especialmente no Dia da Consciência Negra”, reforçou Toledo durante visita técnica aos arquivos.






