Hospital de Clínicas realiza cirurgia inédita pelo SUS para tratar doença rara e potencialmente fatal em Porto Alegre

Procedimento de alta complexidade oferece esperança a pacientes com hipertensão pulmonar tromboembólica crônica
O Hospital de Clínicas de Porto Alegre (HCPA) realizou com sucesso cirurgias de tromboendarterectomia pulmonar — procedimento destinado ao tratamento da hipertensão pulmonar tromboembólica crônica (HPTEC), uma doença rara, grave e potencialmente fatal. O HCPA é um dos três centros no Brasil e o único do Sul do país a oferecer esse tratamento pelo Sistema Único de Saúde (SUS).
A doença é causada pela formação de coágulos rígidos nos pulmões, que bloqueiam a passagem do sangue e sobrecarregam as artérias não comprometidas, resultando em falta de ar, cansaço e dor no peito. O tratamento combina medicação para reduzir a pressão arterial pulmonar e intervenções mecânicas para desobstruir as artérias — seja por meio da cirurgia de tromboendarterectomia ou da angioplastia pulmonar.
“É como um tronco de árvore com galhos de diferentes tamanhos: a cirurgia limpa os galhos maiores (as artérias principais) e a angioplastia, feita por cateterismo, atua nos menores”, explicou o cirurgião torácico William Lorenzi, do Serviço de Cirurgia Torácica do HCPA.
O procedimento é extremamente delicado e exige parada circulatória e hipotermia profunda, utilizando equipamentos de circulação extracorpórea (Ecmo). Desde 2023, o hospital já realizou 32 cirurgias, em pacientes com idades entre 23 e 74 anos, resultado de um trabalho multidisciplinar e altamente especializado.
O pneumologista Marcelo Gazzana, líder do ambulatório de hipertensão pulmonar, destacou que a capacitação da equipe no Hospital Marie Lannelongue, na França, foi essencial para a implementação do método no Clínicas. “O treinamento internacional e a tradição no cuidado de pacientes com embolia pulmonar permitiram oferecer este tratamento avançado pelo SUS”, afirmou.
Apesar dos avanços, o subdiagnóstico da doença ainda é um desafio. Muitos pacientes levam três a quatro anos para obter o diagnóstico correto, pois os sintomas são confundidos com outras doenças cardíacas ou respiratórias. “Quanto mais cedo o diagnóstico, menores os riscos e as sequelas”, alertou Lorenzi.
Com o programa de residência médica em Pneumologia voltado à formação em hipertensão pulmonar, o HCPA reforça seu papel como referência nacional em pesquisa, ensino e tratamento de doenças respiratórias complexas.







