Brics avança em negociações para criar sistema próprio de pagamento sem dólar
Ministros de Finanças e presidentes de Bancos Centrais discutem interoperabilidade dos sistemas e revisão de acordos de reservas

As negociações para a criação de um sistema próprio de pagamento entre os países do Brics avançaram, segundo comunicado divulgado pelos ministros de Finanças e presidentes dos Bancos Centrais do grupo neste sábado, 5 de julho, no Rio de Janeiro. O novo sistema busca dispensar a conversão para o dólar, ampliando transações diretas em moedas locais.
O documento destaca que houve progresso na identificação de caminhos para a interoperabilidade dos sistemas de pagamento dos países membros. Apesar disso, os detalhes não foram divulgados, pois as negociações devem continuar no segundo semestre, antes de a Índia assumir a presidência do bloco em 1º de janeiro de 2026.
Os ministros destacaram que a Força-Tarefa de Pagamentos do Brics vem mapeando possibilidades para facilitar pagamentos transfronteiriços rápidos, de baixo custo, acessíveis, eficientes, transparentes e seguros. Um sistema alternativo de pagamento pode impulsionar o comércio e investimentos entre os países.
Também foi anunciada a revisão do Acordo de Reservas Contingentes (ARC), criado em 2014 para apoio financeiro mútuo em casos de crise no balanço de pagamentos. A revisão prevê a inclusão de novas moedas e será discutida internamente pelos países antes de reunião no segundo semestre, que analisará a adesão de novos membros ao acordo.
Em relação à transição ecológica, o comunicado informou que os países começaram a discutir uma linha de garantia multilateral, que será desenvolvida pelo Novo Banco de Desenvolvimento (NBD) sem necessidade de novos aportes de capital. Um projeto piloto será elaborado ainda em 2025 para apresentação na Cúpula de 2026, na Índia.
Os ministros afirmaram que um financiamento “previsível, equitativo, acessível e economicamente viável” é indispensável para transições justas frente à crise climática e apelaram às instituições financeiras internacionais para ampliar apoio à adaptação e atrair capital privado para ações de mitigação.
O Brics reúne Brasil, Rússia, Índia, China, África do Sul, Irã, Arábia Saudita, Egito, Etiópia, Emirados Árabes Unidos e Indonésia como membros permanentes, além de países parceiros como Belarus, Bolívia, Cazaquistão, Tailândia, Cuba, Uganda, Malásia, Nigéria, Vietnã e Uzbequistão. Juntos, representam 39% da economia mundial, 48,5% da população do planeta e 23% do comércio global.
A 17ª Reunião de Cúpula do Brics ocorre no Rio de Janeiro neste domingo e segunda-feira, dias 6 e 7 de julho, sob a presidência do Brasil. Em 2024, países do Brics receberam 36% de tudo que foi exportado pelo Brasil e foram responsáveis por 34% do total importado pelo país.