Vale Tudo expõe o Brasil real por trás da ficção e transforma novela em espelho social
Remake provoca debate nacional com temas como empoderamento, corrupção e saúde mental no trabalho

Muito além de entreter, o novo remake de Vale Tudo escancarou feridas sociais que seguem abertas no Brasil. A representação de figuras como Marco Aurélio, que normaliza a corrupção em nome de supostos “resultados”, é uma crítica direta ao comportamento de líderes que povoam a vida real. O personagem, vivido por Alexandre Nero, personifica o famoso “rouba, mas faz”, levantando discussões sobre ética, impunidade e o impacto da tolerância à desonestidade nos altos escalões. A série ainda mostra que práticas como suborno e chantagem já não escandalizam como antes — e isso, por si só, é sintomático.
No universo das relações de trabalho, Vale Tudo toca em uma ferida igualmente relevante: a toxidade no ambiente corporativo. A personagem Aldeíde (Karine Telles), com seu visual monocromático, torna-se alvo de piadas e humilhações por parte de um gestor — um retrato claro de assédio moral, hoje enquadrado como crime. A novela provoca ao expor que o ambiente de trabalho ainda é, para muitos, um espaço de opressão disfarçada de “cultura organizacional”. Já a ascensão da personagem Consuêlo, mulher negra que recebe um aumento de 470%, emociona e escancara o abismo que ainda separa sonho e realidade na luta por igualdade de raça e gênero.
Mas talvez o maior impacto da novela esteja nas camadas mais íntimas da sociedade. O empoderamento feminino ganhou protagonismo com personagens que desafiam estereótipos e expõem tabus silenciados. De uma empresária poderosa como Odete Roitman a discussões sobre prazer sexual feminino com Leila (Carolina Dieckmann), a produção quebra paradigmas. A morte de Odete, aliás, causou comoção — tamanha era a força da personagem mesmo com traços repulsivos. Vale Tudo prova que o entretenimento, quando bem conduzido, não apenas reflete a sociedade: ele a provoca, a questiona e a transforma.