“Não tem por que me condenar”, afirma Bolsonaro durante sessão no STF
Ex-presidente diz estar com a consciência tranquila e rebate acusações de envolvimento em suposta trama golpista

Durante intervalo na sessão de depoimentos dos réus da trama golpista no Supremo Tribunal Federal (STF), o ex-presidente Jair Bolsonaro declarou que não se prepara para ser preso, pois acredita não haver motivos para uma condenação. “Não tem por que me condenar. Estou com a consciência tranquila”, afirmou nesta segunda-feira, 9 de junho, na sede do Supremo, em Brasília.
Bolsonaro rejeitou a narrativa de que teria pretendido assinar um decreto de estado de sítio ou defesa. Segundo ele, “o primeiro passo seria convocar os conselhos da República e de Defesa. Não foi feito”.
O ex-presidente também se pronunciou sobre o tenente-coronel Mauro Cid, que reiterou, em depoimento à Corte, o conteúdo de sua delação premiada, afirmando que Bolsonaro recebeu, leu e fez alterações em uma minuta de teor golpista. Cid disse que o então presidente “enxugou o documento, retirando as autoridades das prisões. Somente o senhor (Alexandre de Moraes) ficaria como preso”. Bolsonaro rebateu, chamando a fala de “bravata” e negou qualquer desavença com seu ex-ajudante.
Cid declarou ainda que o ex-comandante da Marinha, Almir Garnier, teria deixado as tropas “à disposição”, mas afirmou não ter participado das ações. “Presenciei grande parte dos fatos, mas não participei deles”, garantiu.
O ministro Alexandre de Moraes, relator do processo, iniciou o depoimento questionando pontos da delação de Cid, alvo de críticas por supostas omissões. Moraes destacou que o militar já prestou quatro depoimentos no inquérito e que todas as informações foram consideradas consistentes até o momento.
Sobre um áudio vazado pela revista Veja em março de 2024, no qual Cid aparece criticando Moraes e relatando pressão da Polícia Federal, ele afirmou que se tratava de “um desabafo em um momento de crise psicológica” e que todas as informações prestadas são verdadeiras.
Durante o depoimento, Cid também apontou grupos que teriam incentivado Bolsonaro a levar adiante o plano golpista. Segundo ele, Garnier integraria a ala mais “radical”, enquanto os ex-ministros Paulo Sérgio Nogueira e Walter Braga Netto seriam mais “moderados”. Cid ponderou que, mesmo com apoio verbal, qualquer ação fora da legalidade dependeria de ordens formais dos comandantes militares.