Lula e Macron reforçam compromisso com acordo Mercosul-União Europeia em meio a tensões comerciais globais
Presidentes conversaram por telefone nesta quarta-feira e prometeram intensificar o diálogo durante presidência brasileira do Mercosul

Em meio à escalada de tensões comerciais provocadas pelas novas tarifas impostas pelos Estados Unidos, os presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e Emmanuel Macron reafirmaram, na quarta-feira, 20 de agosto, o compromisso com a conclusão do acordo entre Mercosul e União Europeia, que está em negociação há mais de 20 anos. A conversa ocorreu por telefone e durou cerca de uma hora.
O presidente francês tem se posicionado contra o acordo em sua forma atual, argumentando que ele não contempla critérios ambientais suficientes na produção agrícola e industrial. Lula, por sua vez, criticou a postura da França como sendo protetora de seus próprios interesses agrícolas. O Brasil, que ocupa neste semestre a presidência rotativa do Mercosul, tem como prioridade finalizar o tratado com os europeus.
Segundo nota do Palácio do Planalto, “Macron e Lula comprometeram-se a ultimar o diálogo com vistas à assinatura do acordo Mercosul-União Europeia ainda neste semestre”. A nota reforça que o Brasil continuará trabalhando para ampliar parcerias comerciais e abrir novos mercados para a produção nacional.
Durante a ligação, os dois líderes também reafirmaram apoio ao multilateralismo, ao livre comércio e à cooperação entre países desenvolvidos e o Sul Global, com base em regras acordadas multilateralmente.
Além do acordo com a União Europeia, o Mercosul também fechou parceria com a Associação Europeia de Livre Comércio (Efta) — composta por Islândia, Liechtenstein, Noruega e Suíça — e tem mantido negociações com Japão, Vietnã e Indonésia. Nesse contexto, Lula articula para setembro uma cúpula virtual do Brics.
Especialistas ouvidos pela Agência Brasil consideram que as tarifas dos Estados Unidos são uma forma de chantagem política, com o objetivo de enfraquecer o Brics — grupo de países emergentes que discute alternativas ao uso do dólar nas transações internacionais.
Em 6 de agosto, o ex-presidente norte-americano Donald Trump elevou para 50% a tarifa de importações de produtos brasileiros, alegando retaliação contra medidas brasileiras que afetariam empresas de tecnologia dos EUA e contra o julgamento do ex-presidente Jair Bolsonaro.
Lula informou a Macron que o Brasil apresentou um recurso à Organização Mundial do Comércio (OMC) contra as tarifas e destacou as medidas adotadas para proteger trabalhadores e empresas nacionais.
Na mesma ligação, Macron confirmou presença na COP30, que será realizada em novembro, em Belém (PA). Lula destacou que essa será a “COP da verdade”, onde ficará evidente quais países realmente acreditam na ciência para enfrentar as mudanças climáticas. O presidente brasileiro ressaltou as metas ambiciosas do Brasil e cobrou da União Europeia compromissos equivalentes ao desafio climático global.
Os líderes também discutiram os esforços de paz na guerra entre Rússia e Ucrânia, com Macron elogiando a atuação do Grupo de Amigos da Paz, liderado por Brasil e China. “Os dois presidentes acordaram continuar o diálogo sobre o conflito”, informou o Planalto.
Lula também criticou o aumento dos gastos militares globais, enquanto 700 milhões de pessoas ainda vivem com fome, e defendeu uma reforma das instituições multilaterais para promover uma governança global mais justa e representativa.
No campo bilateral, os presidentes se comprometeram a aprofundar a cooperação na área de defesa, destacando projetos conjuntos já em andamento como a construção de helicópteros, submarinos e satélites.