Lenda do ‘Menino Santo’ reacende fé popular em Santa Catarina
Relatos de aparições, curas e milagres nos anos 1950 ressurgem e atraem atenção de fiéis décadas depois

Um fenômeno religioso que marcou o Vale do Itajaí nos anos 1950 voltou a ganhar destaque em Santa Catarina: o caso do chamado “Menino Santo”, que afirmava ver Nossa Senhora Aparecida em aparições místicas no bairro Garcia, em Blumenau. O garoto, Vilmar Schmidt, dizia testemunhar a imagem da santa sobre o telhado de sua casa, ao lado de um abacateiro. O relato mobilizou milhares de fiéis, muitos vindos de outros estados, criando uma onda espontânea de peregrinação e devoção, alimentada por rumores de curas milagrosas e sinais divinos.
Com o crescimento repentino da fé popular, a pequena residência virou ponto de romaria. Muletas, dinheiro e objetos ortopédicos eram deixados como prova de agradecimento pelas supostas graças alcançadas. Entretanto, com o tempo, surgiram suspeitas de fraude: vizinhos alegavam nunca ter presenciado nenhuma aparição, e estudos posteriores apontaram que a família de Vilmar teria encenado os eventos em busca de lucro. Um dos episódios mais simbólicos ocorreu quando dois meninos surdos-mudos de Ilhota foram levados até o local na esperança de cura — mas não houve qualquer melhora, o que abalou a crença de muitos e iniciou o declínio do movimento.
A pressão crescente da comunidade, aliada às denúncias de exploração da fé, acabou levando à expulsão da família Schmidt do bairro, que se mudou para Curitiba em 1956. Uma gruta chegou a ser construída por devotos no local, mas a movimentação religiosa perdeu força com o tempo. Hoje, o episódio é visto como um retrato do poder da fé diante da dor e da esperança, mas também como um alerta sobre a vulnerabilidade humana frente ao desejo de acreditar. Segundo o pesquisador Pedro Paulo de Oliveira Abreu, o caso permanece como um marco da religiosidade popular catarinense, onde milagre, dúvida e desilusão se misturam em uma história que ainda provoca emoção e debate.







